segunda-feira, 5 de março de 2012

Soluções podem vir por terra e mar para o Complexo Petroquímico do Rio

Transporte de cargas pesadas para a implantação do Comperj tem alternativas à vista. Licença prévia para implantação de píer em São Gonçalo, inclusive, já foi publicada

O impasse para o transporte das cargas pesadas destinadas à implantação do Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro (Comperj) está perto de ser solucionado. A Comissão Estadual de Controle Ambiental (Ceca) publicou no mês passado a licença prévia para a implantação do píer, em São Gonçalo, e da via especial de acesso para o transporte dos grandes equipamentos, ligando o porto a Itaboraí, e o governo estadual publicou um decreto de utilidade pública da área.

Entretanto, a companhia ainda tem intenção de utilizar o Rio Guaxindiba para transportar parte dos grandes equipamentos, o que preocupa ambientalistas. A criação de um parque de 2.500 hectares no entorno do empreendimento é a boa notícia.

De acordo com o subsecretário estadual do Ambiente, Luiz Firmino, a retificação do Rio Guaxindiba – uma das propostas iniciais da Petrobras para transportar o material para o Comperj – foi deixada de lado e, para resolver a questão do transporte, foi feito o projeto do píer da Praia da Beira e da estrada. Mas devido à demora da construção do porto e da via – cerca de um ano, segundo ele – a empresa solicitou que o rio seja utilizado temporariamente.

“Originalmente, a Petrobras pensava em transportar todo o equipamento pelo rio, mas isso foi vetado. O porto vai resolver esse problema de acesso. O que eles querem, agora, é, sem retificação do rio, transportar máquinas essenciais para a implantação do complexo, o que não chega a 5% dos equipamentos. É uma solução transitória que está sendo analisada pelo Instituto Estadual do Ambiente (Inea) em parceria com o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), responsável pela Área de Proteção Ambiental (APA) Guapimirim”, explicou Firmino.

O gestor da APA Guapimirim, Breno Herrera, acredita que a implantação do porto e da estrada atende aos interesses da Petrobras, sem causar conflitos entre o Inea e o ICMBio. Ele afirma que a estatal retomou ao assunto de utilização do Rio Guaxindiba alegando atraso no cronograma das obras do empreendimento.

“Os 20 representantes do Conselho Gestor da APA Guapimirim recusaram a proposta de retificação do Rio Guaxindiba, apresentada pela Petrobras como alternativa para o transporte dos grandes equipamentos do Comperj. A estatal fez dois projetos voltados para a mesma função, já que, segundo seus dirigentes, há pressa nesse transporte, pois o material já está no Porto do Rio. Conversei por esses dias com o Luiz Firmino e entendo que a proposta do Porto da Beira é a melhor alternativa para não utilizar os rios, beneficiando a população com uma estrada”, declarou Herrera.

Para o biólogo e ambientalista Mário Moscatelli, a retificação do rio seria extremamente nociva ao ecossistema local. Segundo ele, a APA é a última área com aspectos originais da Baía de Guanabara e precisa ser preservada. Além de um desequilíbrio das margens e do mangue, o especialista aponta que a alteração hidrodinâmica deixaria o rio vulnerável a vazamentos de óleo, por exemplo.

“Trata-se de uma unidade de conservação federal e todo cuidado é pouco. Além dos riscos que envolvem essa alteração para o transporte, o rio sofre uma agressão constante, com emissão de lixo e esgoto oriundos de São Gonçalo e Itaboraí. Sou contra esse projeto, mas se for inevitável, que seja bem pago. E a única alternativa para compensar o impacto ambiental seria a construção de uma Estação de Unidade de Tratamento de Rio, que trataria todo o esgoto e seguraria o lixo que deságua na Baía”, pondera o ambientalista. A Petrobras não quis se pronunciar sobre o caso.

Parque – Solucionar a questão da proteção do terreno entre o Comperj e a APA Guapimirim era um dos desafios do processo de licenciamento do empreendimento.

Segundo Luiz Firmino, entre os itens da licença do Comperj quatro eram estruturantes e a criação do parque fecha este ciclo. A área, que fica entre os municípios de Itaboraí e Guapimirim, será reflorestada com o plantio de 1,5 milhão de mudas.

“Três questões já estavam equacionadas: a água, já que R$ 240 milhões foram destinados para a barragem do Rio Guapiaçu, quase dobrando o abastecimento da região; o tratamento do esgoto de Itaboraí e Maricá, com investimentos de R$ 160 milhões; e a recomposição das matas ciliares dos rios Macacu e Caceribu, com investimentos de R$ 50 milhões. Faltava solucionar o que fazer para proteger este terreno entre a APA e o Comperj. Um grupo de trabalho realizou estudos e definiu que seria criada uma Unidade de Conservação voltada para a proteção dos recursos hídricos, é o que chamamos de zona tampão”, finalizou o subsecretário do Ambiente.



O FLUMINENSE

Nenhum comentário: